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 Estamos 
            interessados em detalhar um pouco mais o que acontece com a radiação 
            eletromagnética quando incide num meio com índice de 
            refração diferente daquela na qual ela se propaga. Em 
            particular queremos analisar os ângulos de reflexão e 
            refração e as amplitudes dos campos elétricos 
            transmitido e refletido. 
 Considere 
            dois meios homogêneos isotró-picos, lineares e não 
            condutores (s=J=0) com índices de 
            refração n1 e n2, separados por 
            uma interface localizada sobre o plano xz. Um raio de amplitude E, 
            propagando-se no meio 1 incide sobre a interface, formando um ângulo 
            q com o eixo y. O raio refletido tem amplitude 
            E' e sua direção de propagação é 
            especificada pelos ângulos q' e f'. 
            Analogamente, o raio refratado é especificado por E", q" e 
            f", como mostra a Fig. 6.12. Note o fato 
            de estarmos supondo que os três raios não estão 
            num mesmo plano. 
 Das equações de Maxwell podemos deduzir condições 
            de contorno que estabelecem a continuidade das componentes de e ao 
            se passar de um meio para outro. Os campos
  ,  ' 
            e  '' 
            são dados por: enquanto 
            que os campos magnéticos se relacionam com os campos elétricos 
            através de:  
 Fig. 6.12 - Geometria da reflexão 
            e refração de um raio de luz.
 Tomando 
            um pequeno elemento de volume S dh contendo parte da interface (Fig. 
            6.13), podemos aplicar a forma integral da lei de Gauss:  
 Fig. 6.13 - Elemento de volume usado na obtenção das 
            condições de contorno.  Como 
            a carga superficial é dada por 
           , 
            ficamos com: Assim, 
            de acordo com a Fig. 6.13, temos:
 Note 
            que S1 = S2 = S pois dh 
           0 e  =  . 
            Logo, a equação acima nos leva a: 
 que 
            estabelece que a variação da componente normal do deslocamento 
            elétrico é igual à carga superficial. No nosso 
            caso específico = 0, logo, a componente normal de 
           é contínua: 
 Procedendo 
            de maneira análoga com as outras equações de 
            Maxwell, obtemos:   A 
            eq. (6.17) nos diz que para y = 0 a componente tangencial do campo 
            elétrico é contínua, logo: para 
            a componente x e para 
            a componente z. Como estas igualdades são válidas para 
            qualquer t e qualquer ponto r da interface, devemos ter: 
   onde 
             . 
            Esta última igualdade nos diz que os vetores  ,  ' 
            e  '' 
            são coplanares, isto é, f' = f" = 0 e portanto: 
 Por 
            outro lado, k = k' pois k = w/v1 e k' = w'/v1 = w/v1. Logo, q = q', ou seja, o ângulo de incidência é 
            igual ao ângulo de reflexão q'. 
 O ângulo de refração q" 
            pode ser encontrado usando-se k = n1k0 e k"= n2k0 na eq. (6.22). Assim, n1sen 
            = n2sen , que é chamada de 
            lei de Snell.
 
 Em resumo temos as seguintes regras: (i) os raios incidente, refletido 
            e refratado são coplanares, (ii) o ângulo de incidência 
            é igual ao ângulo de reflexão ?', e (iii) os ângulos 
            de incidência e refração se relacionam através 
            da lei de Snell
  . 
 Vamos 
            analisar dois casos: a) aquele em que é paralelo à interface 
            (e, portanto, perpendicular ao plano xy) como mostrado na Fig. 6.14(a), 
            e leva o nome TE (transversa elétrica) ou polarização 
            s (ou s) e (b) quando for paralelo à 
            interface, que corresponde à onda TM (transversa magnética) 
            também chamada polarização p 
            (ou p), mostrada na Fig. 6. 6.14(b). No caso (a) 
           e para (b)  , 
            o mesmo se dando com as ondas refletida e refratada. Fig. 6.14 - Reflexão e refração de uma onda(a) 
            TE (polarização s) e (b) TM (polarização 
            p).
 Logo, 
            usando as eq. (6.17) e (6.19) podemos fazer a seguinte análise: caso 
            a) TE    Usando 
            a eq. (6.11) para eliminar H em função de E, obtemos:
 definidos 
            por: 
    
            Caso b) TM     
            Novamente, usando a eq. (6.11) para eliminar H em função 
            de E, obtemos: 
           , 
            de onde sai: 
   As 
            equações acima podem ser modificadas usando-se a lei 
            de Snell 
           =  , 
            e o índice de refração relativo (n = n2/n1): 
    
            A Fig. 6.15 mostra a variação do coeficiente de reflexão 
            em função do ângulo de incidência quando 
            n2 > n1 (reflexão externa). O sinal negativo de significa 
            que o campo elétrico muda a fase em 1800 
            após a reflexão. Note que rp = 0 quando:  
 Fig. 6.15 - Coeficiente de reflexão externa. Como n2 > n1 temos tgqB 
            > 1 e, consequentemente, qB > 45 . qB é conhecido com ângulo 
            de Brewster.
 
 A Fig. 6.16 mostra o caso da reflexão interna (n1 > n2) com o ângulo 
            de Brewster, sendo agora menor que 450. Por outro lado, quando n = senq temos um ângulo crítico 
            qc acima do qual rs = rp = 1. Para n menor que 
            senq temos:
 
 
 Fig. 6.16 - Coeficiente de reflexão interna. Um 
            conceito erroneamente empregado é que se a refletividade é 
            unitária, nenhuma luz penetra no meio menos denso. Isto não 
            é verdade, como veremos a seguir. Supondo que a onda incidente 
            na interface é plana e tomando o campo elétrico na forma 
            exponencial, podemos escrever: onde 
            na última passagem usamos o fato que ao onda se propaga no 
            plano xy ( ). 
            Note que kx = k senq 
            e ky = k cosq 
            são as projeções de  no plano xy. O módulo de k" é (w/c) n1. No meio com índice 
            n2, o campo elétrico pode 
            ser escrito de maneira similar: 
 sendo 
            as projeções de 
           " dadas por kx" = k" senq" 
            e ky" = k" cosq", 
            e seu módulo por k"= (w/c)n2. 
            Lembrando que n = n2/n1, pela lei de Snell temos senq = n senq" e consequentemente: 
 Desta 
            forma, a parte espacial da fase da onda dada pela eq. (3.16) fica:
  
            Como i2 = -1, o campo é dado por: 
 onde 
             . 
            Note que a luz se propaga paralelamente à interface, na direção 
            do eixo x. Por outro lado, penetra no meio menos denso, porém 
            decaindo de forma exponencial. Em geral, a profundidade de penetração 
            é da ordem do comprimento de onda da luz. Pictoricamente, é 
            como se houvesse uma rampa na qual uma partícula (fóton) 
            sobe um pouco mas depois volta. Este processo na óptica leva 
            o nome de penetração em barreira ou tunelamento fotônico. 
            Isto fica mais claro se colocarmos dois prismas próximos, separados 
            por uma distância da ordem do comprimento de onda da luz, como 
            representado na Fig. 6.17. Desprezando as reflexões de Fresnel 
            nas faces de entrada e saida dos prismas, vemos que a intensidade 
            da luz transmitida decai exponencialmente com a separação 
            entre os prismas, de acordo com IT 
            = I0 exp (-ad). 
            No interior de cada prima o campo elétrico oscila harmonicamente 
            na direção y, mas entre eles decai exponencialmente 
            como mostrado na Fig. 6.17. 
 Fig. 6.17 - Tunelamento fotônico. Este 
            é um fato muito importante, principalmente no que se refere 
            à propagação de luz em fibras óptica. 
            Nelas, o núcleo (com cerca de 5 mm de diâmetro) possui o índice de refração 
            levemente superior à da casca (diâmetro da ordem de 120 
            ?m) e a tendência da luz é a de propagar confinada no 
            meio com maior índice de refração. Porém, 
            como acabamos de ver, uma parte não desprezível da radiação 
            propaga pela casca, devido ao tunelamento fotônico e qualquer 
            imperfeição (trincas, bolhas, etc.) acarreta em perdas 
            de intensidade. Com 
            relação à energia transmitida ou refletida, podemos 
            escrever:
 Chamando 
            de 
           a normal à interface, a energia se propagando nesta direção 
            é    , 
            a energia refletida é:    e a transmitida é dada por:    . 
            Define-se refletividade R e transmitividade T como: onde 
            necessariamente T + R = 1.  Sergio Carlos Zilio   |