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A descoberta dos
raios X, em 1895, despertou grande interesse entre os investigadores,
que ficaram curiosos quanto à possível existência de outras radiações.
Levado por essa curiosidade, no ano seguinte, 1896, o físico francês
Henri Becquerel descobriu a radioatividade.
Sabia-se naquela
época que certas substâncias, quando expostas à luz do Sol, tornavam-se
fosforescentes e emitiam luz. (Recordemos ao leitor o seguinte: há
substâncias que normalmente não emitem luz, mas que, se forem
iluminadas, então passam a emitir uma luz, diferente daquela que
recebem. O fenômeno é chamado luminescência. Há dois casos de
luminescência.
1o) a
substância somente emite luz enquanto está recebendo luz de alguma
outra fonte. Êste caso é chamado fluorescência;
2o) a
substância continua a emitir luz durante algum tempo, depois de
deixar de ser iluminada. É chamado fosforescência. Êste era o caso
das substâncias que Becquerel estava examinando.
Becquerel pensou
que, juntamente com a luz emitida pelas substâncias fosforescentes,
talvez pudesse existir outro tipo de radiação, invisível, como os
raios X. Um teste que talvez revelasse alguma coisa seria o de
verificar se uma chapa fotográfica, embrulhada em papel preto, era
impressionada pela radiação da substância fosforescente. Nesse caso,
deveria existir outra radiação, além de luz, porque esta não atravessa
papel preto. Becquerel expôs várias substâncias à luz do Sol, até que
se tornassem brilhantes, e depois as colocou sobre chapas fotográficas.
De todas as substâncias experimentadas, somente uma, um sal do metal
urânio, deu resultado positivo. A primeira hipótese que Becquerel
fez, foi a seguinte: que um sal de urânio, exposto à luz do Sol, torna-se
fosforescente, e além de luz, emite uma radiação invisível capaz de
atravessar papel e impressionar chapa fotográfica.
Conta-se que, um
dia em que a luz do Sol estava encoberta por nuvens e, portanto, o sal
de urânio não podia ser muito iluminado, Becquerel guardou em uma
gaveta uma chapa fotográfica, revestida de papel preto, com o sal de
urânio sobre ela. Depois de alguns dias, revelando a chapa,
surpreendeu-se ao verificar que apresentava manchas escuras em
diversos pontos. Posteriormente verificou que sais de urânio que
tinham permanecido meses em completa escuridão, causavam manchas
escuras em chapas fotográficas, e tão intensamente quanto os sais que
eram expostos à luz solar. Concluiu então, que a sua primeira
hipótese estava errada: a radiação emitida pelo sal de urânio não era
devida a um fenômeno de fosforescência. Fez, então, uma segunda
hipótese: que a radiação invisível emitida pelo sal de urânio era
devida ao próprio sal. Isto é, o sal de urânio tinha uma atividade
própria para emitir “raios” invisíveis, era “radioativa”.
Dois anos mais
tarde, em 1898, Madame Curie, na França, e G.C. Schmidt, na Alemanha,
separadamente, descobriram que compostos de tório também emitiam
radiações análogas.

Madame Curie fez
estudo cuidadoso a respeito da radioatividade de vários compostos de
urânio e de tório, e concluiu que as intensidades das radiações
emitidas eram proporcionais às quantidades de urânio e de tório
existentes nos compostos, não interessando a natureza do composto.
Chegou então a uma conclusão fundamental: a radioatividade não era
propriedade dos compostos daqueles dois metais, mas, era própria do
urânio e do tório, isto é, era um fenômeno atômico, característico dos
átomos desses metais. Essa descoberta veio destruir aquela segunda
hipótese de Becquerel.
Posteriormente,
Madame Curie notou que um minério de urânio, chamado petchblenda, era
muito mais radioativo que compostos puros de urânio. Êste fato era
uma surpresa. Pois, se ela já tinha mostrado que a radioatividade era
propriedade do urânio, como justificar que um minério desse metal, que
o contém em pequeníssima quantidade, seja mais ativo que um composto
puro, que contém urânio em maior quantidade? Ela e seu marido, Pierre
Curie, realizaram então um maravilhoso trabalho de análise da
petchblenda, numa tentativa de extrair dela alguma coisa responsável
pela sua intensa radioatividade.
De um dos
resíduos da petchblenda conseguiram isolar um sulfureto de bismuto 400
vezes mais ativo que igual quantidade de urânio. Mas, sabiam que o
sulfureto de bismuto puro não é radioativo. Supuseram, então, que
aquele sulfureto extraído da petchblenda contivesse, como impureza,
algum novo elemento químico, muito radioativo. Êsse elemento foi, a
seguir, isolado, e é um metal a que chamaram polônio (em homenagem à
Polônia, pátria de Madame Curie).
Em outra porção
do resíduo de petchblenda foi encontrado um cloreto de bário,
tremendamente ativo. Sabiam que cloreto de bário puro não é
radioativo, e além disso, medindo a massa molecular do bário isolada
desse cloreto, encontraram um valor maior que o valor conhecido. Com
o mesmo cloreto de bário conseguiram enegrecer chapas fotográficas em
meio minuto, enquanto que, para iguais quantidades de compostos de
urânio ou tório eram necessário horas. Supuseram que novo elemento
químico estivesse associado ao bário, como impureza. Êsse novo
elemento foi isolado, e é um metal que chamaram rádio (do latim,
“radium”, que significa “raio”). É cerca de 4.000.000 de vezes mais
radioativo que o urânio.
Estavam abertos
novos horizontes em Física: tinham sido estabelecidas as bases para os
últimos cinquenta anos de pesquisas.
Autor: Roberto A. Salmeron |
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