
A luminescência esverdeada que aparece na parede do tubo de Crookes
sempre aparece no lado oposto ao catodo, em frente a êste. Mudando-se
a posição do catodo e a do anodo, de todas as maneiras possíveis, ela
sempre aparece em frente ao catodo. Concluímos então que a
luminescência é produzida por alguma coisa que sai do catodo,
atravessa o tubo, e se choca com a parede de vidro. Quando êste
fenômeno foi descoberto, deu-se o nome muito vago de raios catódicos a
essa coisa que sai do catodo, isso porque sua natureza era
inteiramente desconhecida.

Depois de alguns anos que os raios catódicos foram descobertos, o
estudo de suas propriedades mostrou claramente que êles são
constituídos de partículas que possuem carga elétrica e massa mecânica
muito pequenas. Observou-se também que essas partículas são todas
iguais, independentemente do metal do que é feito o catodo ou o anodo.
Concluiu-se então, que essas partículas emitidas pelo catodo entram na
constituição de todos os corpos. Elas foram chamadas elétrons.

Os raios
catódicos são elétrons, que são arrancados do catodo por causa
da diferença de potencial existente entre o catodo e o anodo, e
são atraídos pelo anodo.
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1a) Produzem luminescência nos corpos com que se chocam,
como por exemplo, na parede do tubo. Foi esta propriedade que
permitiu sua descoberta.
A emissão dessa luz se explica do seguinte modo: os elétrons que
constituem os raios catódicos, quando encontram o vidro, possuem
grande energia cinética. Com o choque, êles perdem essa energia
cinética, comunicando energia aos elétrons dos átomos do vidro; êstes
elétrons são então acelerados. E já sabemos que uma carga elétrica
acelerada emite onda eletromagnética. Os elétrons do vidro emitem
então, onda eletromagnética cujo comprimento de onda está nos limites
da luz, isto é, onda eletromagnética visível. (Veja
o capítulo 18 de Eletricidade).
2a) Propagam-se com grande velocidade, que varia desde um
limite inferior de uns 100 Km/seg até um limite superior próximo da
velocidade da luz (300.000 Km/seg). A velocidade é maior quanto maior
for a diferença de potencial aplicada entre o anodo e o catodo.
3a) Propagam-se aproximadamente em linha reta. Costuma-se
demonstrar esta propriedade construindo-se um tubo de Crookes em que o
anodo seja uma cruz. Quando o tubo funciona em uma câmara escura nota-se
na parede do tubo a sombra da cruz, indicando que os elétrons se
propagam aproximadamente em linha reta; os que foram barrados pela
cruz produziram sua sombra. A figura a é fotografia
de um desses tubos. A figura b é fotografia de um
desses tubos funcionando; esta fotografia foi tirada em uma câmara
escura, com a própria luz emitida pela parede do tubo devido ao choque
dos raios catódicos.

Tubo de Crookes
Esta propriedade também pode ser demonstrada com o tubo da figura abaixo.
O catodo é o círculo central, e há dois anodos: um é a estrela, o
outro é um disco com falta de uma estrela no meio. Quando o tubo
funciona numa câmara escura, se nota, no lado direito a sombra da
estrela; no lado esquerdo, uma estrela luminosa, produzida pelos raios
catódicos que passaram pela parte central do disco.

4a) Atravessam pequenas espessuras de materiais. Por
exemplo, a cruz da figura a seguir deve ter de 1 a 2mm de espessura,
senão é atravessada pelos elétrons.

5a) Para demonstrar que os raios catódicos são constituídos
de partículas que possuem energia cinética, constrói-se um tubo que
tenha, entre o anodo e o catodo, uma hélice que possa girar facilmente.
Quando o tubo funciona, a hélice é empurrada do catodo para o anodo,
devido ao impacto dos raios catódicos. A figura abaixo é fotografia
de um desses tubos, em que a hélice é feita de vidro.

6a) São desviados por um campo elétrico ou por um campo
magnético. Por um campo elétrico, porque os elétrons, tendo carga
elétrica, ficam sujeitos à força nesse campo. Por um campo magnético,
porque os elétrons em movimento constituem uma corrente elétrica; e já
sabemos que uma corrente elétrica é sujeita a forças num campo
magnético.
O desvio dos raios catódicos nos campos elétricos e magnéticos sugeriu
um método para a medida da carga elétrica e da massa do elétron, que
estudaremos no próximo capítulo.

Os raios catódicos permitiram a descoberta do elétron, fato que
constituiu a origem da Física Atômica. Êles permitem a medida da
carga elétrica e da massa do elétron, que são dados muito importantes
para a Física moderna. Na indústria e na técnica suas aplicações
crescem dia a dia. Assim, a imagem fornecida pelos aparelhos de
televisão é dada por um tubo de raios catódicos.

Insistimos com o leitor para que fixe a diferença entre uma descarga
elétrica num gás à baixa pressão e descarga no vácuo. No gás à baixa
pressão, há um número relativamente grande de moléculas, de maneira
que a descarga é formada pelo movimento de íons do gás para o catodo,
e elétrons para o anodo, conforme foi descrito no tópico "Condições
para que um Gás seja Condutor - Ionização". Durante a ionização
do gás se produz luz, e é por êste motivo que nessas descargas há um
feixe luminoso do anodo ao catodo (tubos de Geissler).


Tubos de Geissler
Mas, na descarga no vácuo, o número de moléculas de gás que restam no
interior do tubo é insignificante, de maneira que o número de íons
formados também é insignificante, e não chega a se formar a corrente
de íons como no caso anterior. Neste caso, a corrente elétrica no
interior do tubo é constituída somente por elétrons que são arrancados
do catodo e atraídos pelo anodo, isto é, raios catódicos. E como não
há formação de íons, não há produção de luz no interior do tubo, e não
há feixe luminoso entre o catodo e o anodo. (Tubo de Crookes).

Na descarga
no vácuo as moléculas de gás que restam no interior do tubo são
tão poucas, que não participam da descarga. Esta é formada só
pelos elétrons dos raios catódicos.
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